"Todos os homens sonham, mas não da mesma forma. Os que sonham a noite, nos recessos poeirentos das suas mentes, acordam de manhã para verem que tudo, afinal, não passava de vaidade. Mas os que sonham acordados, esses são homens perigosos, pois realizam os seus sonhos de olhos abertos, tornando-os possíveis". Lawrence da Arábia

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Palestina فلسطين

Palestina (em árabe فلسطين, translit. Filasṭīn; em hebraico פלשתינה; em grego Παλαιστίνη, transl. Palaistinē, e em latim Palæstina), é a denominação histórica dada pelo Império Britânico a uma região do Oriente Médio situada entre a costa oriental do Mediterrâneo e as margens do Rio Jordão. O seu estatuto político é disputado acesamente.
A área correspondente à Palestina até 1948 encontra-se hoje dividida em três partes: uma parte integra o Estado de Israel; duas outras (a Faixa de Gaza e a Cisjordânia), de maioria árabo-palestiniana, deveriam integrar um estado palestiniano-árabe a ser criado - de acordo com a lei internacional, bem como as determinações das Nações Unidas e da anterior potência colonial da zona, o Reino Unido. Todavia, em 1967, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia foram ocupadas militarmente por Israel, após a Guerra dos Seis Dias.
Há alguns anos, porções dispersas dessas duas áreas passaram a ser administradas pela Autoridade Palestiniana, mas, devido aos inúmeros ataques terroristas que sofre, Israel mantém o controlo das fronteiras e está atualmente a construir um muro de separação que, na prática, anexa porções significativas da Cisjordânia ocidental ao seu território.
A população palestiniana dispersa pelos países árabes ou em campos de refugiados, situados nos territórios ocupados por Israel, é estimada em 4.000.000 de pessoas.

O Nome
A palavra Palestina deriva do grego Philistia, nome dado pelos autores da Grécia Antiga a esta região, devido ao fato de em parte dela (entre a atual cidade de Tel Aviv e Gaza) se terem fixado no século XII a.C. os filisteus.
Os filisteus não eram semitas e sua provável origem é creto-miceniada, uma das mais conhecidas (embora recorrentemente mencionadas) vagas dos chamados "Povos do Mar" que se estabeleceram em várias partes do litoral sul do mar Mediterrâneo, incluindo a área hoje conhecida como Faixa de Gaza. Segundo a tradição bíblica os filisteus seriam oriundos de Caphtor, termo associado à ilha de Creta. Este povo é igualmente referido nos escritos do Antigo Egito com o nome de prst, por onde também passaram e foram repelidos.
No século II d.C., os romanos utilizaram o termo Syria Palaestina para se referirem à parte sul da província romana da Síria. O termo entraria posteriormente na língua árabe e é usado desde então para se referir a esta região.

História
A Palestina, sendo um estreito trecho de favorável passagem entre a África e Ásia, foi palco de um grande número de conquistas, pelos mais variados povos, por se constituir num corredor natural para os antigos exércitos.
Em meados do século XV a.C. a região é conquistada pelo faraó Tutmósis III, mas será perdida no final da XVIII dinastia, para ser novamente reconquistada por Seti I e por Ramsés II. Com o enfraquecimento do poder egípcio em finais do século XIII a.C., a região será invadida pelos Povos do Mar.
Um destes povos, os filisteus, fixa-se junto à costa onde constroem um poderoso reino. Contemporânea a esta invasão é a chegada das tribos hebraicas, lideradas por Josué. A sua instalação no interior gerou guerras com os filisteus, que se recusam a aceitar a religião hebraica.
As tribos hebraicas decidem então unir-se para formar uma monarquia, cujo primeiro rei é Saul. O seu sucessor, David (início do I milénio a.C.) derrota finalmente os filisteus e fixa a capital do reino em Jerusalém. Durante o reinado do seu filho, Salomão, o reino vive um período de prosperidade, mas com a sua morte é dividido em duas partes: a norte, surgirá o reino de Israel (com capital em Samaria) e a sul, o reino de Judá (com capital em Jerusalém).
Abrevie-se para afirmar que, salvo breves intervalos, a região foi dominada por outras potências tais como a Assíria (722 a.C.), os babilônicos (fins do século VII a.C.), os persas aquemênidas (539 a.C.), os greco/macedónios (331 a.C. permanecendo em poder dos ptolomaicos de 320 a 220 a.C. e dos Selêucidas de 220 a 142 a.C.) passando por uma retomada pelos locais Asmoneus que dominaram daí até o ano de 63 a.C. quando sobreveio o domínio romano, época da qual a maioria das pessoas tomou conhecimento (embora fantasioso) pela filmografia recente.
No ano de 66 d.C. inicia-se uma rebelião dos judeus que foi fortemente reprimida pelos romanos com a destruição do templo de Iavé no ano de 70, e só no ano de 131 a pax romana foi novamente abalada por rebeliões ao fim das quais o imperador Adriano tornou Jerusalém na Colonia Aelia Capitolia.
Passando pela divisão do Império Romano, a região viveu entre 324 d.C. e 638 d.C., extrema prosperidade e crescimendo demográfico, sendo de se considerar que a esta altura a população era de maioria cristã, aliás, religião oficial do Império Bizantino.
No ano de 614 a região acaba de ser ocupada pelos persas Sassânidas que mantém seu jugo até o ano de 628 e no ano de 638 toda a região está sob o domínio árabe muçulmano.
De 1517 a 1917 o Império Otomano controla toda região (incluindo Síria e Líbano).
No século XIX (1880 em diante), judeus começam a migrar para a região comprando terras.
Durante a 1ª Guerra Mundial, o Império Otomano apoia a Alemanha, acabando derrotado, com a ajuda de povos árabes que auxiliam às tropas aliadas, com a promessa da constituição de um estado árabe independente, no médio oriente. Na sequência do final da 1ª Guerra Mundial (1917), a parte sul do Império Otomano foi atribuído à Grã-Bretanha (Jordânia, Israel e Palestina) e à França (Líbia e Síria).
Em 1923 a Grã-Bretanha divide a sua zona em dois distritos administrativos, separados pelo rio Jordão, sendo que os Judeus apenas seriam permitidos na zona costeira, a oeste do rio (cerca de 25% da parte britânica). Os árabes dessa zona rejeitam a divisão, receando tornar-se uma minoria e incitados pelo crescente nacionalismo árabe no médio oriente, assim como apoiando-se no acordo pós 1ª Guerra Mundial.
A Grã-Bretanha entrega a resolução do problema às Nações Unidas em 1947. A Assembleia Geral das Nações Unidas determina a partilha da Palestina (os 25% em disputa) entre um Estado Judeu e outro Estado Árabe baseado na concentração das populações, através da resolução 181. Os árabes não permitem que os palestinos constituam um Estado para usá-los contra Israel. A 14 de Maio desse ano os israelitas declaram a constituição do Estado de Israel, Os países árabes declaram guerra a Israel, (Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Arábia Saudita, Iraque e Iémen). Nos 19 meses seguintes, na chamada Guerra da Independência, Israel acabaria por perder cerca de 1% da sua população, mas sairia vencedora, formando um pais maior que o inicialmente proposto pelas Nações Unidas dois anos antes. Egito e Jordânia ocupam o território restante. Os países árabes continuam sem permitir a instalação de um Estado palestino na margem esquerda.
Em 1967, Egito, Jordânia e Síria mobilizam os seus exércitos, com vista à destruição do Estado Israelita. Naquela que ficaria conhecida como Guerra dos seis dias, Israel derrotou os três exércitos em outras tantas frentes, ocupando a península do Sinai (Egito), Colinas de Golã (Síria) e Cisjordânia (Jordânia), incluindo o total controle sobre Jerusalém. Desde esse ano Israel adotou uma política destinada a promover a instalação de colonatos civis israelitas, expropriando terras aos palestinianos e construindo as casas para os seus cidadãos. Esta atitude é uma violação da Convenção de Genebra, que proíbe os vencedores de uma guerra de colonizar terras estrangeiras anexadas.
O presidente americano Jimmy Carter, em 1978, juntou o presidente egípcio (Sadate) e o primeiro-ministro israelita (Begin) em Camp David, afim de estabelecer o primeiro tratado de paz de sempre entre israelitas e árabes. Foi aqui acordada a devolução da península do Sinai, retirando os colonatos aí existentes, bem como o restabelecimento de laços políticos e económicos.
No ano de 1982, Israel devolve a península do Sinai ao Egito.

O Domínio Árabe

Ao contrário de várias potências que por alí só estenderam seu domínio de passagem, às vezes legando a administração da região a potentados locais, os árabes (à semelhança dos antigos hebreus) se estabeleceram na região, e o primeiro elemento cultural que introduziram foi a língua uma vez que aparentada com o aramaico, obteve fácil aceitação.
Desde o ano de 660 até 750, vigorou o domínio omíada, cuja capital era Damasco datando daí a construção do Nobre Santuário na Esplanada das Mesquitas em Jerusalém, substituída pela dinastia dos abássidas cuja capital era Bagdá que dominou até o ano de 974, seguindo-se a dinastia dos fatímidas que perduraram até o ano 1071.
Ao fim do longo domínio árabe de mais de quatro séculos, a religião islâmica acabou amplamente majoritária, seguindo-se de uma pequena minoria de cristãos e um menor número ainda de judaítas Samaritanos, até quando, no ano de 1072, sobreveio a conquista da região pelos turcos seldjúcidas que tinham capital em Bagdá.
No ano 1099 com a Primeira Cruzada europeus conquistaram Jerusalém e lá estabeleceram o seu domínio sob o nome de Reino Latino de Jerusalém cuja existência periclitante em meio à sociedade islâmica se demorou até o ano de 1187 quando a cidade foi reconquistada por Saladino.
O Império Otomano

Após a expulsão dos Cruzados, a Palestina tornou-se parte do Sultanato mameluco do Egito, integrada no distrito (Wilayah) de Damasco.
Sob a administração mameluca a região viveu cerca de 100 anos de prosperidade, com a consequente reconstrução de escolas, mesquitas destruídas ou negligenciadas durante o período dos Cruzados. Em torno de 1382 a expansão territorial dos Mamelucos leva-os a confrontarem os Mongóis, e posteriormente os Otomanos. Estas campanhas vão estender-se até 1516, quando as forças do Sultão Selim I derrotam os Mamelucos na batalha de Marj Dabiq, e ocupam a totalidade da Palestina.
Durante os próximos 400 anos, o nome Palestina praticamente desaparece, pois a designação oficial sob a administração turca, uma vez que estes dividem o território em sub-províncias (vilayet) que recebiam o nome da sua cidade capital (ex.: vilayet de Sídon).
Em 1799, durante a Guerras Napoleónicas, e no âmbito da Campanha do Egito, as tropas napoleónicas invadem por pouco mais de um mês as cidades de Jaffa, Haifa e Caesarea; é ainda nesta altura, durante o cerco a Acre, que um estadista europeu publicamente avança com a ideia de um Estado judaico na Palestina. De fato, Napoleão tinha uma proclamação preparada nesse sentido, mas nunca chegou a ser publicada.

Entre 1832 e 1840 esteve sob administração do Egito de Muhammad Ali, voltando à dependência direta do Império Otomano no fim desse período.
Em 1873 a região é reorganizada administrativamente, sendo dividida em três grandes àreas: a Norte, de Jaffa a Jericó e o Rio Jordão a pertencer ao vilayet de Beirute. De Jaffa, ao longo da costa até ao Sinai, pertencia ao distrito de Jerusalem, enquanto o restante território Península do Sinai, Deserto de Negev pertencia ao vilayet de Hijaz, que se estendia até à parte ocidental da Arábia.
É também em torno desta data que os primeiros emigrantes judeus europeus, sionistas, começam a chegar à Palestina. A escola Mikveh Israel tinha sida fundada em 1870 pela Alliance Israélite Universelle, com o objetivo de ensinar aos colonos como cultivar a terra, por forma a obter os melhores resultados. As terras exploradas por estes colonos eram arrendadas diretamente à administração Turca.
Apesar das designações oficiais, o termo Palestina foi utilizado de forma informal, não só pelas populações locais, como em algumas situações, mesmo pelos Otomanos; a partir do século XIX a expressão Arz-i Filistin (A Terra da Palestina) aparece em vários documentos oficiais para indicar uma região a Oeste do Rio Jordão num sentido lato.
O Império Otomano era um dos membros da Tríplice Aliança, e portanto inimigo da Inglaterra na Primeira Guerra Mundial. Os ingleses, sobretudo a partir do Egito lançaram várias ofensivas contra os turcos, nomeadamente através das ações de Lawrence da Arábia, que à frente das forças arabes conquista a região, chegando até Damasco a 1 de Outubro de 1918. Contudo, um ano antes, a 2 de novembro de 1917, o então ministro britânico dos Assuntos Estrangeiros, Arthur James Balfour, havia enviado a Lord Rothschild a carta, conhecida como a Declaração de Balfour, na qual comprometia a Inglaterra na criação de um Estado judaico.
Com o Tratado de Versalhes a Palestina no seu sentido lato é dividida entre a França, que ocupa os atuais Libano e a Síria, e a Inglaterra.
O enquadramento legal desta situação será dado pelo Mandato Britânico na Palestina, por decisão da Sociedade das Nações, que, com base no Acordo Sykes-Picot previa que a Palestina seria colocada sob administração internacional. Esta situação iria manter-se até ao final da Segunda Guerra Mundial.

O Mandato Britânico a Israel
Apoiada no Mandato Britânico na Palestina, o Reino Unido estabelece uma administração semi-colonial, que apesar da Declaração de Balfour é reticente quanto à emigração judaica, tentando apaziguar a reação da população árabe - receosa de passar a ser uma minoria, por um lado, e por outro sentindo-se traída pelas promessas feitas por Lawrence da Arábia durante a guerra contra os turcos a Faiçal, e depois quebradas.
A insatisfação é crescente entre os grupos de sionistas. Então, já em 1931, surge o primeiro grupo terrorista conhecido como tal, o Irgun. Essa força para-militar sionista consistia em apressar a criação do Estado de Israel pela imposição da força, expulsar e massacrar os povoados palestinianos que se recusavam a vender suas terras aos sionistas, tal como vemos aconteceu com vila Deir Yassin.
A ascensão do Nazismo e as perseguições aos judeus aumentam a pressão migratória sobre a administração inglesa, que, face a uma crescente oposição árabe, à qual não é estranha a ajuda nazi ao Grão-Mufti de Jerusalém, Mohammad Amin al-Husayni, na propaganda antijudaica, fecha cada vez mais os portos, chegando mesmo a repatriar emigrantes judeus para a Alemanha nazi.

No final da Segunda Guerra Mundial, os sobreviventes do Holocausto são impedidos de emigrar para a Palestina pela administração britânica. Os ânimos de ambos os lados exaltam-se e são acompanhados por uma escalada de violência que a Inglaterra já não consegue conter.
O Reino Unido, enfraquecido pela guerra e debilitado pela ação dos grupos judaicos extremistas - que, após uma trégua durante a guerra, regressam mais ativos e combativos no apoio à emigração clandestina e na luta armada - e de grupos árabes igualmente ativos, entrega a administração da Palestina à recém-criada Organização das Nações Unidas(ONU).
O aumento dos conflitos entre judeus, ingleses e árabes forçou a reunião da Assembleia Geral da ONU, realizada em 29 de Novembro de 1947, que deliberou a partição da Palestina em dois Estados, um judeu e outro árabe, que deveriam formar uma união econômica e aduaneira.
A 14 de Maio de 1948 David Ben-Gurion declara o nascimento do Estado de Israel, ao assinar a Declaração de Independência. A Liga Árabe recusa esta partilha, e não reconhece Israel.

Da Fundação de Israel a Atualidade
Em 15 de Maio de 1948, um dia depois da fundação do Estado de Israel, sete exércitos de países da Liga Árabe atacaram Israel.
Durante a Guerra árabe-israelita, estimulada pelos países árabes, a maioria da população árabe da Palestina foge para os países vizinhos (Líbano, Jordânia, Síria e Egito) em busca de segurança. Com a vitória de Israel, a maioria desses refugiados, cerca de 750 mil, fica impedida de regressar às suas terras.
É na sequência do trabalho efetuado no apoio a estes refugiados que nasce o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Após um período inicial de estadia nos países árabes vizinhos, muitos destes refugiados são expulsos desses países de acolhimento, dirigindo-se para o sul do Líbano, onde permanecem em campos de refugiados até hoje.
Em 1964, o Alto Comissariado da Palestina solicitou à Liga Árabe a fundação de uma Organização para a Libertação da Palestina (OLP), cujo missão estatutária é a destruição do Estado de Israel. Em 1988, a OLP proclamou o estabelecimento de um Estado palestiniano. O principal líder da organização foi o egípcio Yasser Arafat, falecido em 2004. Arafat, após anos de luta contra Israel, renegou a luta armada, a violência e iniciou as negociações que levaram aos Acordos de Paz de Oslo.
Desde 1994 parte da Palestina está sob a administração da Autoridade Nacional Palestiniana, como resultado dos Acordos.
Atualmente a Palestina é governada pelo primeiro-ministro Ismail Haniyeh, do Hamas, e pelo presidente Mahmoud Abbas, do Fatah, tendo havido confrontos armados entre os dois grupos em Gaza em 2007.

Fonte: wikipedia

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