"Todos os homens sonham, mas não da mesma forma. Os que sonham a noite, nos recessos poeirentos das suas mentes, acordam de manhã para verem que tudo, afinal, não passava de vaidade. Mas os que sonham acordados, esses são homens perigosos, pois realizam os seus sonhos de olhos abertos, tornando-os possíveis". Lawrence da Arábia

domingo, 25 de julho de 2010

Argélia الجزائر

Argélia (em arabe: الجزائر, transl. al-Jazā’ir), oficialmente a República Argeliana Democrática e Popular, é um país da África do Norte que faz parte do Maghreb. Sua capital é Argel, e situa-se ao norte, sul da costa do Mediterrâneo. Com uma superfície de 2.381.741 km², ele é o maior país próximo ao Mediterrâneo e o segundo mais extenso da África, sendo apenas menor que o Sudão. Ele partilha suas fronteiras terrestres ao nordeste com a Tunísia, a leste com a Líbia, ao sul com o Níger e o Mali, a sudoeste com a Mauritânia e o território contestado do Saara Ocidental, e ao oeste com o Marrocos.

A Argélia é membro da Organização das Nações Unidas (ONU), da União Africana (UA) e da Liga Árabe praticamente depois de sua independência, em 1962. A Argélia integra a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em 1969. Em fevereiro 1989, a Argélia participou com os outros Estados Maghrebes, para a criação da Organização da União do Maghreb Árabe (UMA).

A Constituição Argeliana define "o islã, o árabe e o berberes" como "componentes fundamentais" da identidade do povo argeliano e do país como a terra do Islã, parte integrante do Grande Maghreb, Mediterrâneo e África.

História

A Argélia tem sido habitada pelos berberes desde pelo menos 10.000 a.C. A partir de 1.000 a.C. os cartagineses passaram a exercer influência sobre os berberes ao instalarem assentamentos ao longo da costa. Os primeiros reinos berberes começaram a surgir, destacando-se o reino da Numídia, e aproveitaram a oportunidade oferecida pelas guerras púnicas para se tornarem independentes de Cartago. Sua independência, no entanto, não durou muito já que em 200 a.C. eles foram anexados por Roma, então uma república. Com a queda do Império Romano do Ocidente, os berberes tornaram-se independentes outra vez retomando o controle da maior parte do seu antigo território, com exceção de algumas zonas que foram ocupadas pelos Vândalos que por sua vez foram expulsos pelos bizantinos. Com sua vitória, o Império Bizantino manteve, ainda que com dificuldades, o domínio sobre a parte leste do país até a chegada dos Árabes no século VIII.

A Argélia foi anexada ao Império Otomano por Khair-ad-Don e seu irmão Aruj que estabeleceram as atuais fronteiras argelinas ao norte e fizeram da costa uma importante base de corsários. As atividades dos corsários atingiram seu pico por volta do século XVII. Ataques constantes a navios norte americanos no Mediterrâneo resultaram na primeira e segunda guerra berbere. Sob o pretexto de falta de respeito para com seu cônsul, a França invade a Argélia em 1830. A forte resistência de personalidades locais e da população dificultou a tarefa da França, que só no século XX obtém o completo controle do país.

Mesmo antes da obtenção efetiva desse controle, a França já havia tornado a Argélia parte integrante de seu território, uma situação que só acabaria com o colapso da Quarta República. Milhares de colonizadores da França, Itália, Espanha e Malta se mudaram para a Argélia para cultivar as planícies costeiras e morar nas melhores partes das cidades argelinas, beneficiando-se do confisco de terras populares realizado pelo governo francês. Pessoas de descendência européia (conhecidos como pieds-noirs), assim como judeus argelinos eram considerados cidadãos franceses, enquanto que a maioria da população muçulmana argelina não era coberta pelas leis francesas, não tinha cidadania francesa e não tinha direito a voto. A crise social chegou ao seu limite neste período, com índices de analfabetismo subindo cada vez mais enquanto que a tomada de terras desapropriou boa parte da população.

A Argélia é obrigada a enfrentar uma guerra prolongada de libertação em virtude da resistência dos colonos franceses (apelidados na metrópole de pieds noirs, ou pés pretos), que dominam as melhores terras. Em 1947, a França estende a cidadania francesa aos argelinos e permite o acesso dos muçulmanos aos postos governamentais, mas os franceses da Argélia resistem a qualquer concessão aos nativos. Nesse mesmo ano é fundada a Frente de Libertação Nacional (FLN), para organizar a luta pela independência. Uma campanha de atentados antiárabes (1950-1953) desencadeada por colonos direitistas, tem como reação da FLN uma onda de atentados nas cidades e guerra de guerrilha no campo. Em 1958, rebeldes exilados fundam no Cairo um governo provisório republicano. A intervenção de tropas de elite da metrópole (Legião Estrangeira e pára-quedistas) amplia a guerra. Ações terroristas, tortura e deportações caracterizam a ação militar da França. Os nacionalistas e oficiais ultradireitistas dão um golpe militar na Argélia em 1958.

No ano seguinte o presidente francês, Charles de Gaulle, concede autodeterminação aos argelinos. Mas a guerra se intensifica em 1961, pela entrada em ação da organização terrorista de direita OAS (Organização do Exército Secreto), comandada pelo general Salan, um dos protagonistas do golpe de 1958. Ao terrorismo da OAS a FLN responde com mais terrorismo. Nesse mesmo ano fracassam as negociações franco-argelinas, por discordâncias em torno do aproveitamento do petróleo descoberto em 1945. Em 1962 é acertado o Armistício de Evian, com o reconhecimento da independência argelina pela França em troca de garantias aos franceses na Argélia. A República Popular Democrática da Argélia é proclamada após eleições em que a FLN apresenta-se como partido único. Ben Bella torna-se presidente.

Com a saída dos franceses, após a independência, os cristãos ficaram reduzidos a 1% da população, dos quais, 0,5% são estrangeiros. Foi aprovado o Decreto 06-03 que restringe cultos não islâmicos e a minoria cristã passou a ser perseguida. Apesar da legislação local tentar evitar medidas extremas contra minorias religiosas, incidentes contra pregadores e padres são constantes, em dezembro de 2009, uma igreja foi incendiada e seu pastor ameaçado.

Geografia

A Argélia tem duas regiões geográficas principais, a região norte, e a região do deserto do Saara, na região ao sul do país. A região norte é formada por quatro zonas: uma pequena faixa de planície acompanhando a costa do Mediterrâneo; a região da cadeia de montanhas do Atlas, que possuem um clima mediterrâneo e solo fértil abundante; a região semi-árida e parcamente povoada do Chotts, o qual contém lagos salgados (chotts) e onde se localizam em maior número os criadores de ovelhas e cabras; e a região das montanhas do Atlas do Saara, uma série de montanhas e massivos, também sendo uma região semi-árida e usada essencialmente como pastagem. O rio Chéliff é o maior do país.

O norte argelino está sujeito a terremotos e, como em 1954, 1980 e 2003, pode devastar, matar e ferir milhares de pessoas.

A maioria da região árida do Saara é coberta com cascalhos e pedras, com pouca vegetação; há também grandes áreas de dunas de areia no norte e no leste. Alguns oásis importantes são: Touggourt, Biskra, Chenachane, In Zize, e Tin Rerhoh.

A maior parte da área costeira da Argélia é acidentada, por vezes mesmo montanhosa, e há poucos bons portos. A área imediatamente a sul da costa, conhecida como o Tell, é fértil. Mais para o sul situam-se os montes Atlas e o deserto do Saara. Argel, Oran e Constantina são as principais cidades.

O clima da Argélia é árido e quente, se bem que o clima da costa seja suave, e os invernos nas áreas montanhosas possam ser rigorosos. A Argélia é afetada pelo siroco, um vento quente e carregado de pó e areia, especialmente comum no verão.

Demografia

A população da Argélia ascende a 32.531.853 habitantes (2005). Mais de 75% falam berbere (cerca de 25 milhões de habitantes) e mais de 85% falam o árabe clássico, o mais falado (cerca de 28 milhões de habitantes), as duas línguas oficiais. Entre 25% e 33% da população fala francês (cerca de 9 a 11 milhões de habitantes). Na Argélia, os árabes normalmente usam uma variante do idioma local, que difere em parte, da língua árabe clássica. Desde a independência, os governos da Argélia têm procurado promover a expansão do árabe clássico, as expensas das variantes locais, e em contraste com francês e tamazigth. Estima-se que em 2.025 a população seja cerca de 44 milhões de habitantes.

Dos milhões de colonos franceses que viviam na Argélia antes da independência, há agora 576 mil. A adição de todos os europeus e seus descendentes é estimada para formar 18% da população da Argélia (6,5 milhões).

Em muitos lares argelinos, há pelo menos duas televisões, uma para mulheres e menores (com canais que transmitem a sua produção em árabe), e um para os homens adultos (com canais que a programação televisiva em francês). A língua dentro do governo argelino e a política é o árabe, enquanto a maioria que usa a linguagem para o comércio e a cultura usa o francês (embora não seja oficial, o francês é a segunda língua). O tamazigth é frequentemente marginalizada pelo Estado, mas um resultado da pressão dos berberes foi finalmente reconhecido como língua cooficial na Argélia.

A taxa de mortalidade infantil é 31,1 por mil e a expectativa de vida de 72,3 anos. Fora das grandes cidades, a assistência médica é rudimentar. A taxa de fecundidade é de 2,38 filhos por mulher, uma das mais baixas do continente africano.

O valor do Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,754 (2007) e o valor do Índice de Desenvolvimento ajustado ao Género (IDG) é de 0,687 (2001).

Religião

99% da população são de muçulmanos, 1% é católica. Há uma pequena minoria judaica (500 por todo o país) que vive na Argélia, principalmente em Argel. O resto da grande população judaica prévia à criação de Israel fugiu ou foi expulsa depois da independência do país.

Política

A Argélia é governada sob a Constituição de 1976, a qual foi revisada inúmeras vezes. O Poder Executivo é liderado pelo Presidente, que é eleito pelo voto popular para um mandato de 5 anos. O Primeiro-Ministro é indicado pelo presidente. O Parlamento Bicameral consiste em 380 cadeiras para a Assembleia Nacional Popular e 144 assentos no Conselho de Nações. O sistema legal argelino é baseado nas leis francesa e islâmica.

Após a independência, a Frente de Libertação Nacional (FLN) torna-se o único partido do país. Após os motins de outubro de 1988 o multipartidarismo é instaurado. O país conta com mais de 30 partidos políticos, porém o mais importante continua sendo a FLN.

A imprensa argelina obteve uma relativa independência nos anos 90, apesar do assassinato de vários jornalistas. Em contrapartida, o Estado manteve seu monopólio no setor audiovisual. Desde 2004, a imprensa enfrenta novamente uma pressão das autoridades. A década de terrorismo entre 1992 e fim dos anos 90 custou a vida de vários jornalistas, intelectuais e agentes de Estado. 1992 é o ano da instauração do estado de urgência. Esta foi decretada pelo Exército após a vitória dos islamitas do FIS (Frente Islâmica de Salvação) nas eleições legislativas. Em 1999, e novamente em 2005, a política de paz e segurança nacional levada a cabo pelo presidente Bouteflika tenta erradicar os focos radicais.

Subdivisões

A Argélia é dividida em 48 wilayas. Além da capital, as maiores cidades incluem Annaba, Blida, Constantina, Mostaganem, Oran, Setif, Sidi Bel Abbes, Skikda e Tlemcen.

Economia

O setor dos hidrocarbonetos é o pilar da economia da Argélia, sendo responsável por cerca de 60% das receitas orçamentais, 30% do PIB e mais de 95% das receitas de exportação. A Argélia tem a sétima maior reserva de gás natural do mundo e é o segundo maior exportador de gás. É ainda o 14º país com maiores reservas de petróleo.

As finanças argelinas em 2000 e 2001 beneficiaram-se dos aumentos nos preços do petróleo e de uma política fiscal apertada por parte do governo, que levou a um grande aumento no excedente comercial, a máximos históricos nas reservas de divisas e a uma redução na dívida externa. Os esforços do governo para diversificar a economia através da atração de investimento estrangeiro e doméstico fora do setor energético tem tido pouco sucesso na redução do elevado nível de desemprego e na melhoria do nível de vida. Em 2001, o governo assinou um Tratado de Associação com a União Europeia que irá, eventualmente, baixar as tarifas e aumentar as trocas comerciais. A dívida externa da Argélia foi em 2004 de 21,9 bilhões de dólares, contra US$ 24 bilhões em 2000.

Educação

A educação é oficialmente compulsória na Argélia para crianças com idade entre 6 e 15anos. Em 1997 havia uma quantidade enorme de professores e estudantes nas escolas primárias.

Na Argélia há 43 universidades, 10 colégios e 7 instituições de ensino superior. A University of Algiers (fundada em 1909), localizada na capital da Argélia, possui cerca de 267.142 estudantes.

O sistema escolar da Argélia é estruturado em níveis "Básico", "Secundário Geral" e "Secundário Técnico":

Básico: Escola Fundamental
Duração: 16 anos
Faixa de idade: de 6 a 15 anos
Certificado/diploma recebido: Brevet d'Enseignement Moyen B.E.M.

Secundário Geral: Lycée d'Enseignement général (Escola de ensino geral), lycées polyvalents (Escola de propósitos gerais)
Duração: 3 anos
Faixa de idade: de 15 a 18 anos
Certificado/diploma recebido: Baccalauréat de l'Enseignement secondaire
(Bachelor's Degree of Secondary School)

Secundário Técnico: Lycées d'Enseignement technique (Escola Técnica)
Duração: 3 anos
Certificado/diploma recebido: Baccalauréat technique (Technical Bachelor's Degree).

Cultura

A grande maioria dos argelinos são descendentes de árabes e berberes; os berberes, a partir do século VII adotaram a língua árabe e o islamismo dos poucos árabes que habitavam a região. Atualmente o árabe é a língua principal. Cerca de 15% da população ainda fala a língua berbere; estes habitantes vivem maioritariamente nas regiões do norte, mas também incluem os tuaregues do Saara. O francês é largamente falado, e cerca de 1% da população argelina é de descendência européia (antes da independência os europeus eram 10% da população).

A questão da língua é um problema crucial na Argélia, devido à política de arabização feita pelo Estado e devido à resistência dos falantes da língua berbere e dos favoráveis ao uso do francês. Nem a língua berbere nem o francês possuem o status de língua oficial, já que o presidente Abdelaziz Bouteflika negou tal status ao berbere em 2002 e novamente em setembro de 2005, o que causou grande revolta e um boicote por parte dos berberes ao referendo pela paz e conciliação nacional, realizado em 29 de setembro de 2005.

Fonte: wikipedia

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